sexta-feira, 20 de maio de 2016

Lideranças femininas são maioria em ocupação do Minc em Florianópolis



Por Paula Guimarães do Portal Catarinas

As mulheres formam a linha de frente na ação de ocupação do escritório regional do Ministério da Cultura, em Florianópolis. A manifestação integra o ato nacional pela restituição do Ministério da Cultura que já ocupa 19 sedes em todo o país. O prédio histórico ao lado do largo da Alfândega foi ocupado, na tarde de ontem, por um grupo formado por artistas, estudantes, professores, agentes da cultura e representantes de movimentos sociais diversos. Várias atrações culturais, aulas públicas e oficinas estão previstas durante a ocupação, entre elas uma roda de conversa sobre feminismos e lutas sociais com Clair Castilhos da Rede Feminista de Saúde e conselheira do Portal Catarinas, amanhã (21/5), às 16h. 

As trabalhadoras e os trabalhadores da cultura têm o apoio dos funcionários do Minc nesta ocupação. “Se não há cultura para os pobres, não haverá paz para os ricos”, afirmou a mobilizadora Elaine Salas. Segundo ela, o prédio fica em estado de ocupação até que o Ministério da Cultura seja restituído. E diz mais: “Se não houver uma posição favorável ao retorno do Minc, nós vamos ocupar escolas, postos de saúde e outros serviços públicos. A cultura está relacionada a todas as áreas sociais."

Escritório segue com atividades normais
Na manhã de hoje, o secretário de Cultura do novo Ministério da Educação e Cultura, Marcelo Calero, informou por meio de uma circular que o escritório deve seguir as atividades normais. Segundo a técnica do Minc, Gabriela Massotti, não há possibilidade de demissão dos funcionários de carreira como ela, o que não diminui a sensação de insegurança institucional. “Ainda não sabemos ao certo o resultado da proposta de enxugamento, se vai haver extinção de representações, remanejamentos de funcionários para outros órgãos ou outras mudanças. A orientação inicial é para que, mesmo com a ocupação, as atividades continuem normalmente”, informa a funcionária.

Gabriela explica que os funcionários continuam atuando nas salas e a ocupação ocorre com atividades dentro e em frente ao prédio. A polícia militar esteve no local e se colocou à disposição para auxiliar em casos de conflito, mas até o momento a ocupação segue de forma pacífica. A técnica explica que trabalhadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deram orientações para os manifestantes sobre os cuidados com o prédio tombado.

O movimento de ocupação

A decisão de ocupar o prédio foi feita em uma assembleia, na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que reuniu alunos e professores das universidades públicas estaduais e federais, além de representantes de várias frentes sociais, entre eles o MST.

Para a atriz e professora de Teatro da Udesc, Bárbara Biscaro, a ocupação deste patrimônio histórico "tão simbólico para a cultura" é uma forma de fortalecer a soberania nacional, com a defesa do acesso a bens culturais que não podem deixar de existir numa sociedade. “País sem cultura é um país formado por pessoas que se calam e não questionam, que só trabalham e ficam em casa assistindo TV. Nosso movimento é contra o pensamento arcaico que quer nos levar para o século passado”, afirma.

A atriz explica que a mobilização só existe porque nos últimos 14 anos houve um fortalecimento da cultura no país com a descentralização de recursos para todos os estados da federação e investimento em políticas de empoderamento das minorias, especialmente da cultura negra, indígena e LGBT. “A população não tem histórico de acesso a bens culturais. Se o ministério fosse extinto no passado talvez a gente não se importasse. Nos últimos anos eles deram um empurrão e a gente se articulou e formou redes. A nossa posição de resistência vem desses anos de construção. É lindo ver várixs alunxs aqui!”

Na opinião da professora, a mídia contribui historicamente para a construção do pensamento hegemônico que só valoriza iniciativas dos grandes centros e criminaliza movimentos sociais. “A grande mídia é em parte responsável pela polarização de pensamentos que ocorre no país. Trata-se de um discurso excludente que coloca áreas sociais de um lado e economia de outro, como se não tivesse nada no meio. Há uma tentativa de criminalização de um movimento civilizatório.”

Bárbara acredita que as lideranças feministas vão fazer a diferença nesse processo de mobilizações. "As ocupações confrontam as bases do sistema patriarcal (e assim da economia), alicerçado na propriedade privada e família", afirma. 

Ela convida todas as pessoas para participarem da ação: "esse é um movimento democrático e contrário à hostilidade, com espaço para a discussão. Chamamos as pessoas que estão indignadas e querem aprender sobre democracia para se integrarem. É um ato pedagógico para todxs."

Acompanhe a programação na página Ocupa Minc SC






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