terça-feira, 31 de maio de 2016

"A culpa do estupro é do estuprador" gritam manifestantes em Florianópolis




Texto de Paula Guimarães.
Fotos de Clarissa Peixoto.

O estupro é culpa de quem? Do estuprador!”, gritaram as centenas de manifestantes que saíram às ruas do centro de Florianópolis, ontem (30/5), para protestar contra a cultura do estupro. 


Organizado pela Marcha das Vadias, o ato "Por todas elas" teve concentração no "Ocupa Minc SC" com oficinas artísticas e discussão sobre a condição da mulher na sociedade atual. “Ele me disse 'eu sou mais forte’. Mas, quando ele está dormindo, eu sou a mais forte”, disse uma das participantes das oficinas. 








Elas marcharam até a escada da catedral, onde oportunamente pediram pelo fim da interferência da igreja nas questões do Estado. Reunidas na escadaria da igreja, contaram juntas até o número 33 como forma de protesto ao estupro coletivo contra uma jovem de 16 anos, no Rio de Janeiro. “Viemos para afirmar que os projetos de retrocesso não vão passar e a cultura do estupro tem que acabar”, diz Kali Turrer da Marcha das Vadias.


Segundo Kali, a construção de uma sociedade sem violência contra mulheres só será possível com um ensino que promova a equidade de gênero. “Precisamos discutir o gênero na educação. A gente aprende desde cedo a oprimir e não respeitar os colegas. É dever da sociedade como um todo incluir o gênero nas discussões”, afirma. 



Enquanto na cultura do estupro, “puta” é um xingamento ou até argumento para culpabilizar vítimas de violência sexual, algumas manifestantes consideram a palavra um elogio. “As putas foram as primeiras revolucionárias da história. Elas não tinham voz. Saíram de casa, negaram a maternidade romantizada e todo o papel que a sociedade impõe. Restou a prostituição”, diz a doula Fernanda Nunes. 



O assistente social, Kawe Campolio estava entre os poucos homens que apoiaram o ato. “Apoio porque os agressores somos nós. Enquanto houver exploração de classe vai haver de gênero. A luta das mulheres ajuda a transformar essa sociedade desigual. É difícil imaginar a mudança sem a participação das mulheres”, afirma.



Marcelle Costa Oliveira, integrante do coletivo artístico Desamordaçadas e da Batalha do Rap das Minas, conta que fica indignada com a forma que a mídia costuma tratar os casos de estupro. “A manchete de jornal diz ‘suspeita de estupro’. A mídia sempre quer culpabilizar a vítima. Isso me deixa engasgada. Se tava bêbada, drogada, de saia curta, nada pode servir de justificativa. Temos que nos unir e colocar isso na arte e na luta”, diz.

Marcelle escreve poesias marginais, a maioria sobre a discriminação contra as mulheres. “Minha inspiração surge no cotidiano e o meu cotidiano, como de todas as mulheres, é marcado pelo machismo gritante que fica nos esmagando o tempo todo. A cultura do estupro começa em casa.”

Estupro coletivo
A delegada Cristiana Bento, responsável pelo caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro, afirmou que as imagens do vídeo são suficientes para provar a violência sexual. "Está lá no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. O que eu quero agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime", disse a delegada. Em 2009, a lei 12.015 sobre violência sexual foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro. "Como ela estava desacordada, não vai haver lesão porque ela não ofereceu resistência. Por isso o laudo não é determinante", afirmou a delegada (entrevista
aqui). 






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